segunda-feira, 30 de maio de 2011

Erí-okán Teatro Criativo para Educação

A educação tem historicamente construído perfis de personalidade para atender as demandas da vida em sociedade. Em especial, a sociedade capitalista de produção, é utilizada como instrumento de formatação do sujeito para o mundo do trabalho para garantir com que o processo produtivo se desenrole de forma competente.
As expectativas de romper com essa realidade se da no contexto em que as demandas do trabalho se apresentam de um lado na formação da pessoa e a apropriação do conhecimento socialmente construído para enfrentar a complexidade da sociedade contemporânea e por outro, busca-se a co-relação dos códigos culturais e sua devida significação na construção – interpretação da sua existência na realidade social em diversos aspectos da consciência como a sua historicidade e identidade na forma de conhecimentos éticos, estéticos, linguagens e tecnologia.
O teatro como na sua genesis é a arte de representar, semiótica por natureza, transita no interstício entre o ser e o estar. A relação entre o indivíduo e a coletividade, seus papeis suas expressões e suas representação, são colocadas na forma de consciência do corpo e da mente, na condução da sua atuação como ser humano inserido em um processo social dinâmico e complexo de forma crítica.
È importante perceber que a corporeidade e oralidade têm papel fundamental no processo de ensino aprendizagem dos educandos do Ensino Básico por se tratar de um grupo heterogêneo culturalmente vinculado a matrizes que são historicamente reconhecidas por suas formas de expressão, organização e apreensão do mundo através da tradição oral.
As matrizes africanas e indígenas povoam o ambiente educacional brasileiro de forma subalterna e secundaria. A relação hegemônica que existe entre as categorias escritas e orais refletem a dicotomia social entre dominantes e dominados, assim como trazem ao plano do cotidiano elementos superados pela própria ciência ocidental da antropologia que é o etnocentrismo, ou melhor, o eurocentrismo.
Privilegiar uma pratica em detrimento da outra nos faz contribuir para os processos de aculturação e dominação que são expostos indivíduos participantes desses povos que são sistematicamente expropriados de suas matrizes culturais em nome da inclusão social e seu prometido sucesso no mundo do trabalho ocidental.
Esses processos se dão em âmbito macro e micro de forma engendrada, primeiro no acesso ao currículo socialmente proposto para esses educandos que não levam em conta os referenciais e prioridades do seu meio comum, assim como as praticas metodológicas que separam teoria e pratica, dilaceram o conhecimento em disciplinas e conseqüentemente na avaliação que de forma alienada julga o sujeito e não o processo pedagógico.
Evidenciar e demonstrar que a apropriação do saber se da também na sua forma oral e os processos de construção de habilidades cognitivas tais como pensamento abstrato, memória, pensamento lógico, categorização taxionômica e conhecimento metalingüístico como afirma Scribner e Cole (1981), podem ser construídos a partir das matrizes da tradição oral referenciada em sua cultura e suas praticas cotidianas dotadas de sentido e intencionalmente modificadas para a vida e construção de novas teias significativas para o processo de enfrentamento do mundo.
O teatro criativo como método educacional que privilegia a autonomia do sujeito e seu conseqüente empoderamento, nos possibilita observar o desempenho educacional e social dos indivíduos que, oriundos de um processo de exclusão social e dotados dos códigos culturais da tradição oral, vivenciam um sistema de avaliação educacional excludente, etnocêntrico e incapaz de dar conta dos próprios objetivos definidos nas políticas e documentos orientados da pratica pedagógica do Estado brasileiro.
A pratica educacional que contempla a oralidade contribui para o engajamento do educando com origens nas culturas de tradição oral, como as africanas e ameríndias, com os objetivos de uma educação para a pluralidade propostas pelas orientações oficiais e institucionais.