As expectativas de romper com essa realidade se da no contexto em que as demandas do trabalho se apresentam de um lado na formação da pessoa e a apropriação do conhecimento socialmente construído para enfrentar a complexidade da sociedade contemporânea e por outro, busca-se a co-relação dos códigos culturais e sua devida significação na construção – interpretação da sua existência na realidade social em diversos aspectos da consciência como a sua historicidade e identidade na forma de conhecimentos éticos, estéticos, linguagens e tecnologia.
O teatro como na sua genesis é a arte de representar, semiótica por natureza, transita no interstício entre o ser e o estar. A relação entre o indivíduo e a coletividade, seus papeis suas expressões e suas representação, são colocadas na forma de consciência do corpo e da mente, na condução da sua atuação como ser humano inserido em um processo social dinâmico e complexo de forma crítica.
È importante perceber que a corporeidade e oralidade têm papel fundamental no processo de ensino aprendizagem dos educandos do Ensino Básico por se tratar de um grupo heterogêneo culturalmente vinculado a matrizes que são historicamente reconhecidas por suas formas de expressão, organização e apreensão do mundo através da tradição oral.
As matrizes africanas e indígenas povoam o ambiente educacional brasileiro de forma subalterna e secundaria. A relação hegemônica que existe entre as categorias escritas e orais refletem a dicotomia social entre dominantes e dominados, assim como trazem ao plano do cotidiano elementos superados pela própria ciência ocidental da antropologia que é o etnocentrismo, ou melhor, o eurocentrismo.
Privilegiar uma pratica em detrimento da outra nos faz contribuir para os processos de aculturação e dominação que são expostos indivíduos participantes desses povos que são sistematicamente expropriados de suas matrizes culturais em nome da inclusão social e seu prometido sucesso no mundo do trabalho ocidental.
Esses processos se dão em âmbito macro e micro de forma engendrada, primeiro no acesso ao currículo socialmente proposto para esses educandos que não levam em conta os referenciais e prioridades do seu meio comum, assim como as praticas metodológicas que separam teoria e pratica, dilaceram o conhecimento em disciplinas e conseqüentemente na avaliação que de forma alienada julga o sujeito e não o processo pedagógico.
Evidenciar e demonstrar que a apropriação do saber se da também na sua forma oral e os processos de construção de habilidades cognitivas tais como pensamento abstrato, memória, pensamento lógico, categorização taxionômica e conhecimento metalingüístico como afirma Scribner e Cole (1981), podem ser construídos a partir das matrizes da tradição oral referenciada em sua cultura e suas praticas cotidianas dotadas de sentido e intencionalmente modificadas para a vida e construção de novas teias significativas para o processo de enfrentamento do mundo.
O teatro criativo como método educacional que privilegia a autonomia do sujeito e seu conseqüente empoderamento, nos possibilita observar o desempenho educacional e social dos indivíduos que, oriundos de um processo de exclusão social e dotados dos códigos culturais da tradição oral, vivenciam um sistema de avaliação educacional excludente, etnocêntrico e incapaz de dar conta dos próprios objetivos definidos nas políticas e documentos orientados da pratica pedagógica do Estado brasileiro.
A pratica educacional que contempla a oralidade contribui para o engajamento do educando com origens nas culturas de tradição oral, como as africanas e ameríndias, com os objetivos de uma educação para a pluralidade propostas pelas orientações oficiais e institucionais.